segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Papillon; Libération et de transformation.

- Feche os olhos e sonhe...
Aquilo parecia ecoar na cabeça da garota, que a trazia um sono pesado e sem sentido. O corpo estava espalhado na cama como de costume, o celular com o fone sobre a altura do estômago, e os olhos observava o teto que ia se apagando conforme as pálpebras ficavam pesadas. Ela havia pensado o dia todo, e mesmo assim estava disposta a continuar a pensar, sem problema algum... Mas realmente, o sono venceu.

- Fou?!
Aquela claridade parecia impedir a garota de abrir os olhos, porém, quando o fez, sua expressão era de pura confusão. Era tudo branco demais e realmente, sem um fim, ou talvez sem um começo. A única coisa que se destacava, era uma imagem embaçada -por conta dos olhos recém abertos- a sua frente, aproximando-se. Logo a garota tomou total visão da mulher com um vestido um tanto quanto leve, e asas delicadas e fechadas perto do corpo da mulher.
- Pensei que não viria Fou. Você é insistente. – A doçura na voz da mulher era anormal, e por vezes aparentava um certo enjoo; ninguém conseguia ser tão doce assim.
A garota enrugou a testa observando a mulher, e logo maneou a cabeça sem notar. Olhou em volta em seguida e realmente, aquilo parecia loucura, ou a deixaria louca.
- Acalme-se, Fou. Viemos apenas conversar...
- Conversar sobre o que? – O tom de voz era um tanto rude, ou poderia ser julgado perdido.
- Ela! – Foi bem exata.
A garota fez uma leve expressão de dor e em seguida suspirou, sentando em um sofá branco, e logo a mulher estava sentada a sua frente, em um banco alto e branco.
A expressão de dor intensificou, e logo ela notara que agora ali realmente estava doendo. Olhou para si mesma e em seguida para a mulher.
- Por que isso? Essa dor?
- Não sabe? Ela lhe causa isso...
- Não! Não causa. –
O tom de voz da garota foi mais rude do que o normal, e ela pareceu se exaltar.
- Fou! Fou! Acalme-se, é apenas uma conversa.
- Que tipo de conversa?
- Você queria compreender, não queria?

Encarava a mulher, agora, com a expressão ainda mais confusa. O que aquela mulher desconhecida podia lhe ajudar a compreender algo. Odiava intromissões, mas a mulher parecia lhe “envolver” facilmente com aquela doçura toda. Não parecia criar intenções de julgar, ou de fazer perguntas desnecessárias.
- Onde ela está agora, Fou?
A expressão dolorosa da garota se intensificou, e ela se sentou obrigada a desviar o olhar, para qualquer lugar dali.
- Longe ...
- Sim! Compreende a dor? –
A doçura da mulher parecia ser um certo conforto com toda aquela conversa que parecia com uma verdadeira conhecida, do que com a desconhecida a minutos atrás.
Ergueu o olhar para, finalmente, os olhos da mulher e eram de um tipo castanho maravilhoso, e com as sobrancelhas perfeitamente sincronizadas com a face dela. Ela enrugou a testa, a encarando; estranha sensação.
- Compreendi. – O tom era falho e baixo, enquanto a encarava.
- Ama ela?
- Amo!
- Amou antes?
- Achei que tivesse amado...
- E porque tem certeza dessa vez?
Aonde ela queria chegar? Porque parecia conhecer mais o que estava sentindo do que a própria Fou. A garota enrugou a testa e suspirou.
- Ela faz minha vida andar...
- Só?
- Não! Ela me faz acordar sorrindo pelas manhãs insuportavelmente ensolaradas, ou graciosamente frias.
- Hum... Conte-me algo que especifique mais isso.
- Ela faz eu querer mais, mais para mim, mais para ela. Ela me faz querer sofrer risco, e viver. –
Fou parecia se alterar a cada palavra ao descrever tudo aquilo. Respirava fundo por diversas vezes, procurando o ar. Suas expressões mudavam por diversas, difícil de descrever.
- Fou! Fou! Acalme-se... – A mulher ergueu a mão ao pedir, e automaticamente, de forma completamente estranha a garota parou, acalmando-se instantaneamente. -... Já chorou?
Aquilo era mais difícil do que o normal, agora. Admitir lagrimas não era o forte de Fou. Enrugou a testa, encarando a mulher, e manteve-se em silêncio.
- Não é facilmente preenchido não é?! E isso parece piorar conforme o tempo passa... Conforme o modo como agem uma com a outra se intensifica. Conforme a voz dela penetra agressivamente na sua cabeça, não é?! – A mulher sustentava o olhar de Fou com a mesma doçura que carregava durante toda a conversa. – Isso dói.
- Dói! –
Disse em um resmungo, porém, logo negou com a cabeça. – Mas vale apena.
- Vale, Fou?
- Aham!
- E porque me diz uma coisa dessas? –
Ela maneou a cabeça, encarando docemente.
- Porque ela me dá força.
- Força para que, Fou?

Desceu o olhar para os pés ainda calçados com o all star preto que ela tanto não ia com a cara, e logo riu baixo em seguida ao pensar nela dizendo que não gostava de all star, porém, sendo o único tênis que Fou calçava, ou o que mais calçava.
- Por que ri, Fou?
Ergueu o olhar para a mulher, maneando a cabeça. Logo, um suspiro pesado soltou entre os lábios da garota, abrindo o sorriso de canto.
- Ela não curte muito all star.
A mulher enrugou a testa, parecendo confusa, porém, por duvidas, apenas preferiu sustentar o olhar da garota.
- Ela me faz rir quando eu deveria chorar. Ela me dá força. – O tom da garota era firme, enquanto o sorriso se mantinha na face.
Vendo logo a expressão da mulher mudar para quem havia, enfim, entendido que mensagem a garota queria passar.
- As coisas não são fáceis, não é?
- Ninguém entende!
- São julgadas...
- ...E nem um pouco compreendidas. Ninguém quer compreender ou aceitar.
- Precisa que as pessoas aceite, Fou?
- Não! –
Respondeu Fou, enrugando a testa, um tanto confusa e realmente “pasma” com a pergunta.
- Porque se importa?
- Não me importo, ninguém vai fazer eu mudar de idéia, ninguém vai tirar de mim o que eu sinto por ela...
Estranhamente, as asas delicadas da mulher mudaram para uma cor vermelha, e forte. Fou arqueou ambas as sobrancelhas, observando a mulher surpreendida.
Pernas enfraquecidas, borboletas no estomago, respiração lhe faltando e outros sintomas que surgiam instantaneamente começava a deixar a garota assustada.
- Fou, ela te deixa assim porque você nunca sentiu isso antes, e por mais que estejam juntas por tanto tempo... Ela sempre irá lhe fazer se sentir assim como se fosse a primeira vez que ela lhe olhasse. Que ela sorrisse para você. Que ela lhe tocasse...
- Para! Não quero saber... – Alterou-se Fou, encarando a mulher de forma firme.
- Você não saberia nem se tentasse, Fou!
- O que quer dizer com isso?
- Você não explica o tamanho, explica o que sente...
- E o que tudo isso tem com essa conversa, o que quer afinal? –
O tom confuso agora predominava, e Fou levava uma das mãos à cabeça, tentando raciocinar. Perturbada, mal olhava para a mulher e mal enxergava tudo a sua volta. Aquilo começava a se tornar forte demais, e a garota começava a sentir uma enorme pressão dentro de si.
- O que quer por ela? – A voz doce havia mudado, não que havia deixado de ser... Mas a mulher parecia deixar a conversa mais firme, obrigando a garota a falar.
- Só a felicidade dela. Proteger ela! – Resmungava Fou, ainda com a mão na cabeça, perturbada.
- E a sua felicidade? E porque acha que não protege? – O tom alterado, porém doce, deixava a garota mais confusa e perturbada.
- Minha felicidade está com ela... Com ela. – Resmungava, enquanto apertava a cabeça com as mãos. – Eu não posso protegê-la, estando onde estou. Longe!
A mulher se aproximou em apenas uma batida de asa, de forma rápida e um tanto assustadora, segurou a face da garota com ambas as mãos, a encarando, e assim, fazendo a garota encará-la.
- Ela protege você? – O tom agora, calmo, e baixo, fez a garota parecer um tanto quanto “hipnotizada”.
- Protege!
- Como?
- Eu... Eu normalmente não faço o que ela pede para eu não fazer por trazer o mal para mim. –
Ainda resmungava Fou, atordoada, e agora parecia drogada.
- Ela está aqui para realmente te impedir disso?
Fou apenas negou a cabeça, abaixando o olhar e respirando fundo; de qualquer forma, ela protegia a garota.
A mulher aproximou os lábios do ouvido da garota, ainda segurando com firmeza a face dela.
- Quem eu sou?
Fou fechou os olhos automaticamente ao ouvir a voz da mulher, enrugando a testa, resmungando baixo em seguida.
- Eu sou aquilo que te obriga a sorrir pelas manhãs quando acorda com ela no pensamento. Eu sou aquilo que lhe obriga a ter borboletas no estomago quando ela te deixa doida. – Aquela voz havia voltado a sua cabeça, e saia de uma mulher que minutos atrás ela julgava desconhecida. - Eu sou aquilo que lhe faz ouvir a voz dela, sem pedir a ela, ou estar falando com ela. Eu sou aquilo que lhe faz fechar os olhos e ver ela... O modo como ela sorri primeiro por um canto da boca e depois pelo outro. Que lhe faz ver a expressão tímida dela, ou a mania incontrolável de mexer as sobrancelhas. Eu sou aquilo lhe faz perder o sono por querer explodir só em pensar ela. Eu sou o que obriga seu coração a acelerar... Eu sou seu medo de ouvi-la chorar.
Foi a onda mais forte de todos os sentimentos de uma vez só, sentindo cada coisa que a mulher falava com a voz dela, foi a sensação mais fascinante e estranha que ela havia sentindo na vida, o que durou por poucos segundos, até sentir o toque da mulher em sua face se afastar, e assim a obrigando a abrir os olhos, se deparando com apenas uma pequena, linda e delicada borboleta que voou em direção ao seio que cobria o coração da garota...

O celular vibrou na altura do estômago informando uma nova mensagem. Fou abriu os olhos se deparando o teto que encarava antes de dormir. Toda aquela estranha sensação se mantinha pelo corpo da garota, e ela simplesmente parecia, ainda, tentar voltar ao “mundo”.
- Acalme-se Fou, e espere...
Aquela voz a deixava definitivamente intrigada. Já havia acordado, mas então tudo havia sido real? Sentou-se rapidamente ao acordar de fato, e pegou o celular, ignorando mais uma daquelas mensagens ridículas de sua operadora, e logo apertava os botões do celular com uma certa velocidade:


“Adriana Duarte, você existe?”